Análise de mutações somáticas no promotor do gene TERT em tecido hepático de pacientes com carcinoma hepatocelular.voltar para a edição atual

Livian Maria Castilho da Silva

Sob orientação de NATALIA MOTTA DE ARAUJO e JOSE JUNIOR FRANCA DE BARROS
Com um registro de 905.677 novos casos e 830.180 mortes em 2020, o câncer de fígado é o sexto tipo de câncer mais comum e a terceira causa de mortalidade associada ao câncer em todo o mundo, representando um grande problema de saúde global [IARC 2020]. No Brasil, quase 11.000 mortes foram registradas no ano de 2019 em virtude do câncer de fígado. O carcinoma hepatocelular (CHC) é o tumor maligno primário de fígado mais comum, sendo responsável por cerca de 90% dos casos. A progressão do câncer hepático envolve múltiplas etapas, incluindo inflamação (hepatite), fibrose, cirrose, e CHC, havendo forte influência de fatores virais e genéticos do hospedeiro. Os principais agentes etiológicos para o desenvolvimento do CHC são as infecções crônicas pelos vírus da hepatite B (HBV) e da hepatite C (HCV), que geram lesão hepática crônica, resultando frequentemente no desenvolvimento de cirrose hepática, sendo esta encontrada em mais de 80% dos casos de CHC. Devido ao curto tempo de evolução do CHC, geralmente o tumor se encontra avançado quando é feito o diagnóstico, fazendo com que a taxa de mortalidade desse tipo de câncer seja elevada. O bom prognóstico do CHC depende fundamentalmente da detecção precoce do tumor e, portanto, estudos que identifiquem possíveis marcadores de detecção precoce do CHC são de extrema importância. Várias linhas de evidência sugerem que o padrão de mutações somáticas em casos de CHC varia entre as diferentes regiões geográficas, muito provavelmente devido a fatores ambientais ou a diversidade genética do hospedeiro. O gene TERT (do inglês Telomerase Reverse Transcriptase) é responsável por codificar a porção catalítica da telomerase celular, que atua no reparo dos telômeros durante as divisões celulares. Sua expressão é necessária em tecidos que estejam em fase de proliferação, como os embrionários e os de regeneração, mas se encontra naturalmente desativada nos demais tecidos. Mutações somáticas do tipo substituição no gene TERT são frequentemente detectadas em uma região hotspot do promotor, entre elas, mudanças de citosina para timina podem ocorrer nas posições -146 e -124 [Horn et al., 2013], criando um sítio de ligação para fatores de transcrição, aumentando assim a expressão da telomerase. A reativação de TERT tem sido associada à transformação maligna de diferentes tipos celulares, incluindo os hepatócitos. De fato, a reativação do gene TERT através de mutações somáticas na região promotora pode ser encontrada em até 70% dos casos de CHC. Além disso, estudos têm demonstrado uma maior frequência dessas mutações em casos de CHC de etiologia por HCV do que HBV. Até o momento, não há estudos avaliando a prevalência de mutações no gene TERT em amostras de tecido hepático de pacientes com CHC no Brasil. Além disso, faremos a quantificação por pirosequenciamento da carga alélica das mutações -146C>T e -124C>T em TERT em amostras de tecido de fígado classificadas histologicamente nos diferentes graus da doença hepática (hepatite, cirrose e CHC), e avaliaremos se porcentagem de DNA genômico contendo mutações aumenta progressivamente de acordo com o grau da doença hepática. Esta análise será algo inédito na literatura e permitirá avaliar se a quantidade de DNA genômico mutado aumenta de acordo com o dano do tecido hepático. Os resultados obtidos no presente projeto contribuirão para a identificação de biomarcadores genéticos que poderão auxiliar na detecção precoce do CHC, bem como, na identificação de pacientes em alto risco para o desenvolvimento deste câncer.
Palavras-chaves:CARCINOMA HEPATOCELULAR; VÍRUS DA HEPATITE B; VÍRUS DA HEPATITE C; POLIMORFISMOS GENÉTICOS; MUTAÇÕES SOMÁTICAS; METILAÇÃ Área de conhecimento (CNPq): Genética Linha de pesquisa na FIOCRUZ: 10.2. Análise epidemiológico-molecular dos genes candidatos à resistência ou suscetibilidade a doenças transmissíveis e crônico-degenerativas, e marcadores prognósticos