Análise e descrição de perfis de idosos vulneráveis na Atenção Básica de Saúde.voltar para a edição atual

FELIPE CARNEIRO DE SOUZA

Sob orientação de CLEBER NASCIMENTO DO CARMO
Este trabalho utilizou dados provenientes do projeto intitulado: “Vulnerabilidade e Fragilidade: proposta de indicadores epidemiológicos para o monitoramento em saúde do idoso na atenção básica de saúde”, desenvolvido no Rio de Janeiro/RJ. Foram elegíveis para este estudo todos os indivíduos de 60 anos ou mais, cadastrados no Programa de Saúde da Família da Clínica da Família Victor Valla e do Centro Municipal de Saúde Manguinhos (CMS Manguinhos), unidades que integram a iniciativa Teias-Escola Manguinhos da ENSP/FIOCRUZ e estão localizadas na área programática 3.1. A Clínica da Família Victor Valla e o CMS Manguinhos, juntos, são constituídos por quatorze equipes de saúde da família, com aproximadamente 3129 idosos cadastrados. Os idosos foram recrutados no período entre outubro de 2013 e fevereiro de 2014 e acompanhados por um período de seis meses, a partir da data do recrutamento. No total, 640 idosos participaram do seguimento do estudo e tiveram seus dados analisados. Um instrumento de coleta de dados foi elaborado especificamente para o estudo. A primeira parte do instrumento é constituída por um questionário estruturado, contemplando variáveis sociodemográficas, de saúde e estilo de vida e os desfechos adversos de saúde, alvo do estudo. A segunda parte é constituída pelo instrumento VES 13. A análise descritiva dos dados foi realizada através de medidas de tendência central, de dispersão e de distribuições de frequência. A presença de diferenças significativas entre os grupos estudados foi verificada através de testes estatísticos paramétricos e não paramétricos. Numa etapa posterior, foi realizada uma série de análises de agrupamentos para identificar um perfil multivariado dos indivíduos vulneráveis. A análise de agrupamentos (cluster analysis) é uma técnica estatística que permite ao pesquisador separar ou classificar objetos observados em um grupo ou em número específico de subgrupos ou conglomerados (clusters) mutuamente exclusivos, de modo que os subgrupos formados tenham características de grande similaridade interna e grande dissimilaridade externa. O programa computacional livre R foi utilizado para a realização das análises estatísticas previstas no projeto de pesquisa. Uma análise de agrupamentos é importante neste caso, por causa do seu objetivo primário: reunir as observações em grupos, de acordo com as similaridades entre si, considerando as variáveis que estão sendo consideradas. Estes grupos são construídos devido a um determinado nível de proximidade entre eles, calculado por meio de medidas de distância ou semelhança (LOESCH e HOELTGEBAUM, 2012). Dos 640 idosos participantes do seguimento do estudo, 623 possuíam dados completos com relação ao questionário; e por conseguinte, foram utilizados para a análise descritiva e de agrupamentos. Foi utilizado o método da silhueta para verificar qual seria o número ótimo de agrupamentos para este conjunto de dados. Seguindo o resultado fornecido por este método, os idosos foram agrupados em 3 clusters. Ao observar os resultados da Tabela 1, nota-se um predomínio de mulheres (64,69%), idosos com idades entre 60-69 anos (54,09%) e mais da metade não tinha frequentado à escola ou possuía ensino fundamental incompleto. Maior parte dos idosos era casado (37,36%), independente em AVD (92,51%) e independente em AIVD (62,32%). Todas as variáveis mostraram diferenças significativas quanto à classificação de vulnerabilidade. De acordo com o apresentado na Tabela 2: o cluster 1 é composto de 197 idosos, sendo 28 homens e 169 mulheres. A média de idade deste grupo é de 75,37 anos. Com relação a escolaridade, quase metade dos indivíduos deste grupo (91 pessoas) estudou até o ensino fundamental I, e quanto ao estado civil, 113 eram viúvos. A maioria das pessoas deste cluster eram independentes em suas atividades básicas da vida diária (AVD), porém dependentes nas atividades instrumentais da vida diária (AIVD). O cluster 2 contém 234 idosos, todos do sexo feminino. A média de idade deste grupo é quase 8 anos menor que o do cluster 1 (67,97 anos). A maioria destas 234 pessoas possui o ensino fundamental I (120 idosas). Com relação ao estado civil, 97 idosas eram casadas e 68 eram viúvas. E neste grupo, quase a sua totalidade eram independentes nas AVD (229 das 234 idosas) e quase 90% eram independentes nas AIVD (204 das 234 idosas). Por sua vez, o cluster 3 contém 192 idosos, todos do sexo masculino. A média de idade deste agrupamento era de 68,70 anos. Tal como os outros dois clusters, a pluralidade do grupo tinha o ensino fundamental I; porém este grupo possui uma clara maioria de pessoas casadas (116 das 192 pessoas). Este grupo também, majoritariamente, possuía independência nas AVD (184 dos 192 idosos); e nas AIVD (112 dos 192 idosos). Por fim, comparando os dados descritivos sobre o escore do VES13 de cada um dos idosos pesquisados, reunidos em seus respectivos agrupamentos; o cluster 1 apresentou escore médio de 5,528 (o maior entre os três agrupamentos); o cluster 2, de 1,124 (o menor entre os 3 grupos); e o cluster 3, de 1,406. Pudemos notar que o grupo que apresentou um maior escore médio do instrumento VES13 foi justamente o agrupamento que reunia a maioria dos viúvos que participaram do seguimento da pesquisa (113 dos 201 viúvos), além de ter sido o grupo mais idoso, em média. Este grupo era composto majoritariamente, por mulheres e por pessoas independentes em AVD - apesar de ter apresentado a maior porcentagem de dependentes entre os 3 grupos (quase 24%, 50 dos 197 idosos); e dependentes em AIVD. Os dados desta pesquisa indicam que quanto mais idoso o indivíduo, mais provável será a situação de vulnerabilidade. Por isso é necessário que os mecanismos de saúde do idoso estejam em pleno funcionamento, pois um acompanhamento cada vez mais cuidadoso, com o passar do tempo, se faz necessário para garantir uma qualidade de vida digna ao idoso. O fato da maioria deste cluster com maior escore médio no VES13 ser composto de mulheres também levanta questões sobre a saúde da mulher, especificamente sobre a saúde da mulher idosa. Com isto posto, é necessário um maior investimento na saúde da mulher, de forma que tal atendimento acompanhe a pessoa de forma contínua. A análise de agrupamentos também nos mostrou um dado interessante: o único grupo no qual a maioria era composto de viúvos, foi o grupo com maior escore no VES13. O que aponta também para a importância do atendimento psicológico ao idoso; tão fundamental nessa faixa etária e sob estas circunstâncias; fato este, muitas vezes negligenciado pelo serviço de saúde pública.
Palavras-chaves:VULNERABILIDADEFRAGILIDADEVALIDADE PREDITIVAMONITORAMENTO DA SAÚDEIDOSO. Área de conhecimento (CNPq): Saúde Coletiva Linha de pesquisa na FIOCRUZ: 15.6. Epidemiologia de doenças crônicas, do envelhecimento, de doenças cardiovasculares, câncer e causas externas