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GIOVANNA LUCIERI ALONSO COSTA

Sob orientação de Raquel Brandini de Boni e Jurema Correa Mota
Introdução: A medicina do estilo de vida propõe intervenções em saúde voltadas para prevenção primária e secundária, de modo a reduzir o impacto das doenças crônicas não-transmissíveis. O estilo de vida é avaliado em sete domínios: dieta, atividade física, uso de substâncias, sono, suporte social, gerenciamento de estresse e exposição ambiental. No cenário das doenças crônicas, cabe destaque para a hipertensão arterial (HAS) e para a doença cardiovascular (DCV), cujos fatores de risco se relacionam diretamente com os domínios avaliados pela medicina do estilo de vida. O estudo do estilo de vida é importante para promover estratégias em saúde que auxiliem a prevenção de doenças. Objetivos: avaliar a associação entre estilo e HAS e DCV durante a pandemia de COVID-19. Métodos: análise secundária dos dados obtidos nos projetos "Hábitos Saudáveis e Estilo de Vida Durante A Pandemia do COVID-19: Uma Websurvey para a População Brasileira” e do projeto Hábitos de vida saludable durante la pandemia del COVID-19: una encuesta online a la población general”. O desfecho principal foi o diagnóstico auto-referido de HAS (os participantes foram perguntados se receberam diagnóstico ou tratamento para HAS nos últimos 12 meses). As variáveis independentes analisadas foram sexo, idade, país de residência (Brasil ou Espanha), escolaridade, diagnóstico de sobrepeso/obesidade, diagnóstico de diabetes, screening para depressão ou ansiedade, consumo de álcool e drogas e estilo de vida. O estilo de vida foi analisado pela escala SMILE-C (Short Multidimensional Inventory Lifestyle Evaluation–Confinement). A escala inclui uma pontuação global e uma pontuação para cada domínio do estilo de vida. Os fatores associados com o diagnóstico de HAS foram analisados através de modelos de regressão logística, que incluíram os fatores demográficos e as comorbidades listadas, além da pontuação obtida na SMILE-C. Resultados: A amostra incluiu 5216 indivíduos, sendo 1582 habitantes do Brasil e 3634 habitantes da Espanha. 76.18% da amostra é composta por participantes do sexo feminino (n=3974), 57.94% tem mais de 42 anos (n=3022) e 66.92% possui educação superior completa (n=3491). Dentre esses indivíduos, 645 (12.36%) informaram diagnóstico de HAS. Após o ajuste das covariáveis, os principais fatores associados com maior probabilidade de apresentar HAS foram: morar no Brasil (adjusted odds ratio [AOR] 2.14, 95% IC 1.77–2.59), sexo masculino (AOR 1.45, 95% IC 1.18–1.79), idade superior a 42 anos vs. idade inferior a 42 anos (AOR 7.12, 95% IC 5.33–9.52), mestrado/doutorado vs. ensino fundamental/médio/técnico (AOR 1.67, 95% IC 1.27–2.19) or college education (AOR 1.35, 95% V 1.04–1.67), diagnóstico de diabetes concomitante (AOR 3.47, 95% IC 2.63–4.58), sobrepeso (AOR 1.58, 95% IC 1.27–1.96) e obesidade (AOR 2.79, 95% IC 2.18–3.58). A associação entre o score obtido na SMILE-C e o diagnóstico de HAS não apresentou significância estatística (AOR 0.9988, 95% IC 0.9951–1.0025). O score avaliando os domínios individuais da escala demonstrou maior prevalência de HAS entre pessoas com dieta mais saudável (OR 1.26, 95% CI 1–1.58), porém os resultados dos outros domínios também não apresentaram significância estatística. Conclusão: A prevalência de HAS encontrada no estudo foi inferior à prevalência global de HAS identificada pela OMS, o que ser explicado pelos diferentes intervalos de idade avaliados em nosso modelo e pelo grupo populacional específico atingido pelas websurveys. Além disso, é possível a existência de um desequilíbrio entre a prevalência de HAS no Brasil e as taxas de diagnóstico, ainda que o diagnóstico brasileiro seja equivalente ao espanhol. Nosso estudo indica a necessidade de políticas públicas no Brasil que auxiliem a prevenção da HAS e, nesse contexto, a medicina do estilo de vida pode ser ferramenta útil para elaboração de estratégias de mudança de hábitos populacionais.
Palavras-chaves:LIFESTYLEDEPRESSIONANXIETYALCOHOL DRINKING Área de conhecimento (CNPq): Saúde Coletiva Linha de pesquisa na FIOCRUZ: 7.4. Outras doenças não-transmissíveis