Relações filogenéticas e glicobiologia de Leishmania (Mundinia) spp.: patógenos emergentes e negligenciadosvoltar para a edição atual

Eduardo Almeida Milagres

Sob orientação de Rodrigo Pedro Pinto Soares e FELIPE DUTRA REGO
ALTERAÇÃO DO SUBPROJETO DO BOLSISTA Os parasitos do gênero Leishmania infectam vasta gama de vertebrados, podendo causar as leishmanioses, um conjunto de doenças de espectro clínico variável, sobretudo em humanos. Surpreendentemente, nas últimas décadas, casos de leishmaniose cutânea (LC) e visceral (LV) em humanos e animais causados por parasitas não canônicos do gênero Leishmania foram relatados em diversos países. Estes fatos alertaram pesquisadores ao redor do mundo no intuito de elucidar os principais aspectos a cerca destes parasitos. Espinosa et al (2018) propôs o agrupamento destes organismos no subgênero Leishmania (Mundinia), que inclui Leishmania enriettii, L. macropodum, L. orientalis e L. martiniquensis, além dos isolados de Gana não caracterizados formalmente até os dias atuais. Apesar dos recentes avanços nas pesquisas, estes parasitos ainda desafiam nosso conhecimento atual, tendo em vista a sua distribuição mundial, a fisiopatologia das leishmanioses, a diversidade de hospedeiros naturais, a possível participação de vetores não-flebotomíneos na dinâmica de transmissão destes parasitos e seu caráter oportunístico, manifestando-se em pacientes imunocomprometidos. Baseando-se nestes fatos, nosso grupo de estudos, tem estudado estes parasitos desde 2012, com foco na glicobiologia de Leishmania e na interação parasito-hospedeiro. Polimorfismos nas moléculas de superfície de duas cepas de L. enriettii (L88 e Cobaia), bem como diferentes padrões de ativação de macrófagos murinos via TLR2/TLR4 foram demonstradas. Entretanto, ainda não conhecemos as estruturas, bem como suas propriedades pró-inflamatórias nas demais espécies do subgênero Mundinia. Além disso, características imunopatogênicas distintas foram observadas para estas mesmas cepas de L. enriettii. Enquanto a cepa L88 apresentava-se de forma ulcerada em Cavia porcellus, a cepa Cobaia produzira lesões nodulares que regrediam após cerca de 12 semanas. Em paralelo, foi possível observar o recrutamento diferencial de macrófagos (L1 e CD163) nas diferentes cepas de L. enriettii na presença/ausência do extrato de glândula salivar de flebotomíneo inoculado junto ao parasito, modulando a infecção tanto na fase aguda quanto crônica da doença. Em vista destes resultados, recentemente, em parceria com pesquisadores da República Tcheca, Tailândia e Reino Unido, o nosso grupo conseguiu reunir em seu biorepositório de amostras um material biológico extremamente valioso agrupando todas as cepas formalmente descritas deste subgênero, permitindo assim novos estudos. Neste cenário, propomos aprofundar os estudos filogenéticos deste grupo, caracterizando as cepas de Mundinia de acordo com os principais alvos moleculares utilizados para tipagem de Leishmania; e caracterizar bioquimicamente e funcionalmente os LPG das cepas do subgênero Mundinia. Pretendemos com este estudo, testar as seguintes hipóteses: 1) É possível discriminar através de uma técnica simples como a PCR-RFLP os parasitos do subgênero Mundinia? 2) Os lipofosfoglicanos das outras espécies do subgênero Mundinia apresentam polimorfismos em suas estruturas? 3) Este glicoconjugado ativa diferencialmente macrófagos murinos? Respondendo a estas questões pretendemos elucidar aspectos biológicos desconhecidos para as espécies do subgênero Mundinia, sendo extremamente relevantes no contexto científico para o entendimento da relação parasito-hospedeiro neste novo grupo.
Palavras-chaves:LIPOFOSFOGLICANOLEISHMANIA AMAZONENSISINTERAÇÃO COM HOSPEDEIROSRESPOSTA IMUNEVETOR Área de conhecimento (CNPq): Biologia Geral Linha de pesquisa na FIOCRUZ: 4.3. Biologia, bioquímica e biologia molecular de parasitos e a sua interação com células e hospedeiros