Diagnóstico de situação das infecções causadas por Mammarenavirus em populações humanas e animaisvoltar para a edição atual

ANA BEATRIZ FERNANDEZ DA COSTA

Sob orientação de RENATA CARVALHO DE OLIVEIRA PIRES DOS SANTOS e JORLAN FERNANDES DE JESUS
Os mammarenavírus, foco deste estudo, associados a febres hemorrágicas e comprometimentos neurológicos em humanos, possuem como principais reservatórios naturais roedores de diferentes espécies. Os roedores (ordem Rodentia) representam o maior grupo de mamíferos, compreendendo 42% da biodiversidade global deste grupo, e particularmente os ratos, ratazanas e os camundongos, são hospedeiros de pelo menos 60 agentes zoonóticos. Acredita-se que cada mammarenavírus está associado a um determinado roedor reservatório, e por isso, a sua distribuição geográfica está condicionada à distribuição do seu reservatório. A exposição humana ocorre, principalmente, através da inalação de aerossóis contendo partículas virais procedentes de excretas de roedores infectados. Até o momento, oito espécies de arenavírus foram descritas no Brasil em diferentes espécies de roedores silvestres, com exceção do vírus Sabiá, agente etiológico da febre hemorrágica brasileira, cujo reservatório natural ainda é desconhecido, e que reemergiu em dezembro de 2019 no Estado de São Paulo. Assim, o projeto tem como objetivo: avaliar a circulação de mammarenavírus em populações humanas vulneráveis e em populações de roedores. Adicionalmente, pela necessidade de adequações por conta das restrições impostas pela pandemia da COVID-19, foram realizadas revisões sistemáticas sobre vírus, incluindo os mammarenavírus, identificados em roedores e morcegos no Brasil. Para isto, foram adotados métodos de busca sistemática e por artigos científicos em bases de dados bibliográficos, como PubMed (Medline), LILACS, Embase, Scopus e Scielo, para identificar e selecionar os estudos relevantes ao tema, seguido de coleta e análise de dados desses artigos. Nossos resultados preliminares apontaram para a detecção de agentes infecciosos (helmintos, vírus e bactérias) em seis famílias de roedores descritas em 135 artigos. Houve um predomino (63,47%) de publicações sobre detecção de vírus em roedores, fato que pode ser explicado pela intensificação das pesquisas para identificação de roedores reservatórios de hantavírus no país após a emergência da síndrome cardiopulmonar por hantavírus em 1993. Nove famílias virais foram reportadas em quirópteros no Brasil (31 artigos), a maioria dos estudos incluídos concentra-se na região Sudeste. Esses resultados demonstram um hiato no conhecimento quanto à diversidade patógenos em roedores e quirópteros em um país megadiverso como o Brasil, apontando para a necessidade de se expandir a investigação de agentes virais nesses animais. A partir da retomada das atividades presenciais, amostras de diferentes espécies de roedores capturados durante expedições de campo independentes, conduzidas em diversas localidades do Brasil, entre os anos de 2010 a dezembro de 2019, e que se encontram armazenadas no Laboratório de Hantaviroses e Rickettsioses do Instituto Oswaldo Cruz (LHR/IOC), serão selecionadas para pesquisa de mammarenavirus. Inicialmente, serão conduzidas análises sorológicas e moleculares de 260 amostras de roedores silvestres capturados em um estudo longitudinal realizado no estado de Minas Gerais. Em paralelo, um banco de dados com cerca de 630 amostras de uma população de cortadores de cana de açúcar manual, foi compilado e suas amostras separadas para análises sorológicas. Trata-se de uma população rural, de baixo poder aquisitivo, com comportamentos que os colocam em risco para infecções por mammarenavírus. A análise de amostras que se encontram estocadas no LHR/IOC obtidas de estudos previamente conduzidos com diferentes populações de roedores, assim como de populações humanas vulneráveis, possibilitará a obtenção de dados inéditos sobre a circulação destes agentes infecciosos, e subsidiará medidas para o diagnóstico e implementação desta linha de pesquisa no Brasil, contribuindo com a vigilância eco-epidemiológica das febres hemorrágicas virais.
Palavras-chaves:ROEDORESARENAVÍRUSHANTAVÍRUSLCMVZOONOSEHANTAVIRUSFEBRES HEMORRÁGICAS Área de conhecimento (CNPq): Microbiologia Linha de pesquisa na FIOCRUZ: 11.24. Rickettsioses “lato sensu”, hantaviroses e arenaviroses: eco-epidemiologia, clínica, diagnóstico e terapêutica