Manejo terapêutico da COVID 19 e desenvolvimento de Transtorno por Uso de Opioides (TUO)voltar para a edição atual

MARINA URURAHY SORIANO DE SOUSA

Sob orientação de Francisco Inácio Pinkusfeld Monteiro Bastos
Os opioides são substâncias psicoativas utilizadas como opções potentes de terapia álgica, visando o manejo de dores aguda intensas e controle de dores crônicas de grande intensidade. Nesta última situação, trabalhos recentes mostram que uma parcela de pacientes desenvolve efeitos adversos de severidade variável. Uma fração deles desenvolve o Transtorno por Uso de Opioides (TUO). Este se caracteriza por efeitos adversos graves e persistentes, tolerância e, eventualmente, dependência. A fração dos pacientes que vem a desenvolver TUO é variável, em função da casuística, dos opioides utilizados, sua formulação e dose. Excluídos os cuidados paliativos, quando a elevada mortalidade impede a avaliação de um quadro de instalação gradual, a proporção de pacientes que desenvolve TUO após uso continuado de opioides é de aproximadamente 10%. Além de atuarem em áreas neurais associadas à percepção da dor, os opioides estão presentes em sistemas de recompensa (e.g. núcleo accumbens e área tegumentar ventral), associados à sensação de prazer e bem-estar. Dentre seus efeitos colaterais, se destacam a tolerância e a dependência (1). A síndrome de abstinência aos opioides é grave e potencialmente fatal (2). O desenvolvimento de esquemas que visem ao uso judicioso dos opioides e a determinação de fatores de risco associados aos seus efeitos adversos são imprescindíveis. No contexto da pandemia de COVID, observou-se uma elevação pronunciada no uso desses fármacos, sobretudo devido à sua importância no manejo de intervenções que afetam as vias respiratórias (e.g. o uso de ventilação mecânica). Foi evidenciado um aumento significativo do consumo hospitalar de Fentanil, Remifentanil e Metadona parenterais, em 2020 (vs. 2019), em séries históricas de uma rede de hospitais privados (2). Entretanto, em análises exploratórias não foram identificadas referências na literatura que relacionassem o manejo do COVID ao desenvolvimento de TUO, destoando do modelo antes descrito. Isso poderia estar associado a uma extensa série de fatores: a expressiva mortalidade de pacientes com quadros mais graves da infecção, a não utilização de protocolos diagnósticos para TUO ou confundidores de natureza neurofisiológica/psicopatológica, já que o COVID pode cursar com complicações neuropsiquiátricas, como depressão, ansiedade, comprometimento da memória e transtorno de estresse pós-traumático, complexo conjunto de transtornos, sinais e sintomas, enfeixados na assim denominada “Síndrome pós COVID” (3,4). Para esclarecer se há associação entre a aplicação massiva de opioides no manejo de pacientes afetados pela COVID 19 e o desenvolvimento de padrões de uso prejudicial, o presente estudo realizará uma revisão dos quadros mórbidos, sobretudo neuropsiquiátricos, da síndrome pós-covid em pacientes pediátricos e hebiátricos. A escolha dessa população se justifica pela menor proporção de comorbidades e predisposição à dependência, devido à sua elevada neuroplasticidade cerebral e ao desenvolvimento em curso do córtex frontal (1). Será analisada a necessidade de ampliação da amostra para jovens adultos, devido a uma menor proporção de casos graves, que exigem suplementação de oxigênio, em crianças e adolescentes (5), situação que sofreu alterações na vigência da variante Ômicron. No contexto desta, as internações nessa população atingiram números nunca vistos desde o início da pandemia (6). Essa revisão será realizada por pesquisadores da FIOCRUZ em colaboração com o IDOR, nas bases de dados Medline, EMBASE e Scielo. A revisão sistemática e metanálise almejam subsidiar a elaboração de medidas que busquem normatizar a utilização de opioides no contexto de afecções graves, como o COVID, e reduzir o risco do estabelecimento de uma disseminação de quadros de dependência e overdoses, como ocorreu nos EUA, a partir de 1990. Objetiva-se ainda o aprendizado das normas e procedimentos da Colaboração Cochrane e do registro correto de protocolos em bases como a Prospero.
Palavras-chaves:UTILIZAÇÃO DE OPOIODESSEDAÇÃO E INTUBAÇÃODEPENDÊNCIA QUÍMICAGESTÃO DA PANDEMIA POR COVID-19 Área de conhecimento (CNPq): Saúde Coletiva Linha de pesquisa na FIOCRUZ: 15.2. Construção do conhecimento epidemiológico aplicado às práticas de saúde