VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA DA TUBERCULOSE DROGARRESISTENTE (TB-DR): ESTUDO COMPARATIVO ENTRE AS REGIÕES DO BRASILvoltar para a edição atual

Caroline Millon

Sob orientação de Karen Machado Gomes e Marcela Lopes Bhering da Silva
Introdução: A tuberculose (TB) permanece um grave problema de saúde pública. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil está entre os 30 países com mais alta carga de TB e coinfecção TB-HIV, sendo considerado prioritário no controle da doença pelo mundo. O entendimento do comportamento da TB no Brasil é necessário para orientação de medidas visando o melhor controle dessa doença endêmica no país. Objetivos: Analisar a tendência dos casos de TB no Brasil, assim como por estado da federação, no período de 2010 a 2021. Elaborar um boletim epidemiológico acerca do comportamento da doença em 2021. Metodologia: Foi realizado um estudo longitudinal retrospectivo baseado em dados secundários de Tuberculose (TB) extraídos do Sistema de Agravos de Notificação (SINAN). Os dados selecionados foram importados na forma de tabulações geradas através do aplicativo TabNet desenvolvido pelo DATASUS. O período analisado foi entre 2010 e 2021. As tabulações foram criadas a partir da seleção da opção do ano de interesse na opção "Períodos Disponíveis", além do cruzamento das variáveis de interesse que compuseram as linhas e colunas das tabelas. As variáveis de interesse incluídas foram "Tipo de Entrada"; "UF de residência"; "Ano Diagnóstico"; "Sexo"; "Raça"; "Forma pulmonar"; "HIV"; "TARV"; "Teste rápido molecular" e "Situação encerrada". Novas tabelas foram criadas de acordo com o ano analisado e as UFs. As proporções anuais de casos novos de TB (numerador: casos novos; denominador: população pelo censo IBGE 2010; fator de multiplicação: 100.000) e as proporções anuais de óbitos por TB (numerador: óbitos por TB; denominador: população pelo censo IBGE 2010; fator de multiplicação: 100.000) das Unidades da Federação (UFs) e do Brasil foram calculadas. Foi calculada a proporção das variáveis "sexo", "raça", "forma pulmonar" e "teste rápido molecular" entre os casos novos de TB por ano de interesse no país (numerador: variável de interesse em número absoluto; denominador: número de casos novos por ano de interesse; fator de multiplicação: 100). Os resultados levantados no ano de 2021 foram utilizados para o desenvolvimento do relatório para o boletim epidemiológico de TB da Centro de Referência Professor Hélio Fraga (CRPHF/ENSP/FIOCRUZ). Resultados: A partir da análise de dados atualizados no período 2020-2021, observou-se que o coeficiente de incidência da doença no país sofreu redução, contrariando a tendência de aumento observada desde 2017 até 2019. Em 2021, o Brasil registrou 67.292 casos novos de TB com um coeficiente de incidência de 35,28 casos por 100 mil habitantes. Neste ano, o perfil epidemiológico dos casos novos da doença manteve-se elevado entre o sexo masculino (68,68%). As raças preta e parda mantiveram-se as mais prevalentes, representando 62,09% dos casos novos. Em relação a estratificação por regiões, a região Norte apresentou a maior incidência (66,05), seguido do Sudeste (38,83) - única região que sofreu aumento do coeficiente de incidência por 100 mil habitantes em 2021 quando comparada aos anos anteriores (+0,11). Em 2021, o Amazonas permaneceu com a maior taxa de incidência, 87,60 por 100.000 habitantes. O estado do Rio de Janeiro apresentou a segunda maior incidência (70,49/100 mil habitantes). Em relação à mortalidade foram registrados 2.614 óbitos em decorrência da TB, que equivale a um coeficiente de mortalidade de 1,37 óbitos por 100 mil habitantes. Onze estados apresentaram coeficiente de mortalidade por TB próximo ou superior ao coeficiente do país. Em 2021, foram registrados 5.717 casos novos de TB com coinfecção com HIV (8,19%). Dentre os casos novos de coinfecção TB-HIV, em 2021, apenas 47,01% realizaram TARV durante o tratamento de TB. Os estados que apresentaram maiores proporções de coinfecção TB-HIV foram Amazonas, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Pernambuco. Dos casos novos pulmonares, 47,36% foram diagnosticados pelo Teste Rápido Molecular (TRM-TB). 4.729 indivíduos abandonaram o tratamento de TB e 12,4% desses eram casos de TB sensível. Conclusão: Os indicadores de TB no Brasil do período 2020-2021, contrariando a tendência mundial indicada pela OMS, apresentaram queda na incidência e na mortalidade. É possível que os dados tenham sofrido subnotificação no diagnóstico e notificação, em decorrência da alta demanda do sistema de saúde pela pandemia.
Área de conhecimento (CNPq): Saúde Coletiva Linha de pesquisa na FIOCRUZ: 16.1. Vigilância epidemiológica