Influência do grau de imunosenescência de linfócitos T estimulados com antígenos parasitários nos diferentes desfechos clínicos de pacientes com leishmaniose visceral.voltar para a edição atual

Joana Maria Rodrigues Siqueira

Sob orientação de MARIA LUCIANA SILVA DE FREITAS e ADRIANO GOMES DA SILVA
A imunopatogênese da leishmaniose visceral (LV) ativa é caracterizada por uma imunossupressão em paralelo a uma ativação imune sistêmica. Ambos os mecanismos podem contribuir para um comprometimento da resposta efetora específica ao parasito, impactando negativamente na evolução clínica dos pacientes. De fato, o status inflamatório exacerbado já foi associado à evolução para LV grave, onde altos níveis de citocinas inflamatórias precederam o óbito de pacientes com LV ativa, e se correlacionaram com parâmetros clínico-laboratoriais associados à gravidade. A literatura acerca dos fatores imunológicos que possam predizer tais desfechos é vasta. No entanto, as recidivas têm emergido como um desafio clínico adicional na LV e ainda pouco se investiga sobre os parâmetros imunológicos subjacentes. Nesse cenário, o grau de ativação de linfócitos T pode ser determinante para a senescência replicativa, que resulta no acúmulo de células T terminalmente diferenciadas, caracterizadas por uma deficiência na proliferação, produção de citocinas, e que podem ser identificados por marcadores fenotípicos. Assim, nossa hipótese é que o prejuízo imune da fase ativa da LV, ao lado das consequências do elevado grau de ativação, como a senescência replicativa, podem comprometer a qualidade da resposta efetora ao parasito e predispor às recidivas da LV. No contexto da coinfecção LV/HIV, nosso grupo verificou que pacientes com recidivas da LV (-R: recidivantes) mantiveram percentuais elevados de linfócitos T ativados ex vivo, diferente daqueles com primodiagnóstico da LV (-NR: não-recidivantes) que reverteram estes parâmetros a níveis próximos da normalidade. Além disso, os percentuais de células T senescentes foram elevados nos pacientes LV/HIV. Assim, acreditamos que, mesmo entre os não-coinfectados, a não-responsividade de clones específicos aos antígenos de Leishmania, em conjunto à morte celular induzida por ativação na periferia podem ajudar a explicar a perda do controle parasitário e a progressão para recidivas. Espera-se encontrar parâmetros imunológicos que possam ajudar a predizer esse prognóstico. Para confirmar tal hipótese, 30 pacientes com LV serão agrupados em -NR e -R, e acompanhados desde a fase ativa até 12 meses pós-tratamento. As células mononucleares de sangue periférico (PBMCs) serão obtidas por gradiente de centrifugação em Ficoll-Hypaque, criopreservadas e, posteriormente, descongeladas para estímulo in vitro frente aos antígenos de L. infantum. Após, parâmetros fenotípicos e funcionais em termos de senescência, ativação, proliferação e produção de citocinas intracelulares serão avaliados por citometria de fluxo multiparamétrica. Os resultados mais recentes são provenientes de experimentos de padronização da estimulação in vitro com os antígenos parasitários, seguido de imunofenotipagem extracelular e intracelular para a avaliação dos perfis fenotípicos propostos. Obteve-se sucesso na padronização, sobretudo, nas análises de proliferação celular pela marcação do BrdU, que foi confirmada pelo estímulo com mitógeno Concanavalina A. Finalmente, embora o n de pacientes seja pouco expressivo, a padronização foi efetiva em relação aos demais perfis avaliados, sendo possível estabelecer uma estratégia de análise bem definida.
Área de conhecimento (CNPq): Parasitologia Linha de pesquisa na FIOCRUZ: 4.5. Imunopatologia e resposta imunológica nas infecções parasitológicas