AVALIAÇÃO DOS EFEITOS DE UMA DELEÇÃO GENÔMICA DETECTADA EM ISOLADOS AMERICANOS DE LEISHMANIA INFANTUM SOBRE ASPECTOS BIOLÓGICOS DO PARASITAvoltar para a edição atual
CAMILLY ENES TRINDADE
Sob orientação de MARIANA CORTES BOITE
As estratégias de ganho de aptidão de patógenos podem ser surpreendentes quando novos
ciclos de transmissão se estabelecem em ambientes não-nativos envolvendo novos
vetores e hospedeiros. A introdução de Leishmania infantum nas Américas durante a
colonização europeia representa uma oportunidade singular para investigar os
mecanismos de adaptação ecológica deste importante parasita. Definir as trajetórias
evolutivas que impulsionam a aptidão de L. infantum neste novo ambiente são de grande
importância para a saúde pública, pois permitirão uma visão única das vias de coevolução
hospedeiro / patógeno e suas consequências para mudanças na manifestação da
leishmaniose visceral (LV), doença causada por este agente. A LV é uma doença grave,
endêmica no Brasil, sendo o protozoário L. infantum transmitido ao hospedeiro
vertebrado durante o repasto sanguíneo da fêmea do vetor flebotomíneo. Ao realizarmos
um estudo de genômica comparativa entre diversas cepas americanas e de outros
continentes, detectamos uma deleção apenas no genoma de cepas brasileiras de L.
infantum, em uma região codificante para duas copias da enzima 3’ecto-nucleotidase.
Esta enzima trans-membranar é essencial na via de captação de purinas (principalmente
adenosina - ADO) do meio extracelular pelo parasita, que é incapaz de sintetizá-las de
novo. Está associada ao escape dos parasitas das redes de neutrófilos e na sua interação
com os macrófagos. Cepas apresentando a deleção sub-cromossômica (DEL) foram
avaliadas e os resultados demonstraram que de fato a atividade enzimática está reduzida
ou ausente em formas promastigotas DEL. Além disso, essas cepas sobrevivem menos à
interação com as redes de neutrófilos e infectam menos os macrófagos quando
comparadas às não-deletadas. Além dos impactos biológicos, chama a atenção que a
maioria das cepas brasileiras avaliadas (71/91) apresenta a deleção, sugerindo maior
fitness. Sabe-se que a ADO extracelular gerada pela ação das ecto-nucleotidases do
parasita e do hospedeiro tem efeito na via de sinalização purinérgica, inibindo a produção
de citocinas inflamatórias e a produção de moléculas microbicidas por neutrófilos e
macrófagos. Adicionalmente há ADO na saliva do inseto inoculada no momento da
picada. Assim, essa intrincada combinação nos momentos iniciais da infecção pode ter
um efeito importante no desenvolvimento da doença. Diante disso, o objetivo do projeto
principal onde esta proposta está inserida é compreender como a atividade enzimática é
modulada nesses dois genótipos e se de fato seus efeitos alteram o fitness do parasita no
hospedeiro vertebrado contribuindo para sua alta ocorrência entre cepas brasileiras de L.
infantum. O objetivo específico do presente subprojeto de iniciação científica é
determinar in vitro o efeito modulador que a presença purina (ADO) tem sobre a
expressão da enzima, sobre s replicação dos parasitas e sobre a metaciclogênese nos
distintos genótipos de L. inafntum.