EFEITOS ECOTOXICOLÓGICOS DOS REJEITOS DA BARRAGEM DE BRUMADINHO, MINAS GERAIS EM MINHOCAS EISENIA ANDREIvoltar para a edição atual

DAVI PINHEIRO CUNHA

Sob orientação de ENRICO MENDES SAGGIORO e LORENA OLIVEIRA SOUZA SOARES
A barragem de rejeitos (B1) da mina Córrego do Feijão, da mineradora Vale S.A, localizada em Brumadinho (Minas Gerais- Brasil), se rompeu no dia 25 de janeiro de 2019. Cerca de 12 milhões de m3 de rejeitos atingiram o meio ambiente e o número de óbitos chega a 300. A contaminação ambiental espalhou-se por cerca de 300 hectares de terras da sub-bacia do Ferro-Carvão antes de chegar ao rio Paraopeba. O presente trabalho tem como objetivo avaliar a toxicidade dos rejeitos em minhocas E. andrei expostas ao solo contaminado com rejeitos da barragem de Brumadinho/MG. Foi realizada uma quantificação dos elementos-traço nas amostras de solo controle e rejeito. Posteriormente, a toxicidade dos rejeitos em minhocas foi determinada por três abordagens: teste de fuga, teste agudo e teste crônico em solo. Para a determinação de elemento-traço nas amostras foi utilizada a metodologia descrita em Parente et al., (2021). O teste de fuga foi realizado conforme ISO (2008), nas concentrações de 0; 12,5; 18,5; 25; 37,5; 50; 62,5; 75 e 100% (m/m) de rejeito, composta por 3 replicatas, com 10 organismos cada, e tempo de exposição de 48h. As avaliações de efeitos agudos e crônicos foram realizadas de acordo com protocolo pela ASTM (2012), composta respectivamente por 3 e 4 replicatas, com 10 minhocas cada. Para o ensaio agudo (14 dias) as concentrações utilizadas foram: 0; 12,5; 25; 50; 75 e 100% (m/m) de rejeito. Para o ensaio crônico (60 dias) foram as proporções: 0; 3,12; 6,25; 12,5 e 25% (m/m). A estimativa da CL50 foi determinada pelo teste de Spearman-Karber. Para o teste de fuga foi utilizado o teste Exato de Fisher. Os resultados obtidos com os testes agudo e crônico em solo utilizaram os testes: Shapiro-Wilk, One-way- ANOVA, Kruskal-Walli e post hoc Dunnett test e post hoc Dunn’s test. Foi utilizado intervalo de confiança de 95 % para todas as análises. Ao quantificar os elementos-traço foram destacados os elementos Fe, Mg e Hg. A presença do metal Fe pode ser associado à mineração da mina do Córrego do Feijão, enquanto a presença de Mg à dolomitos intemperizados que formaram depósitos superficiais nas formações de rochas e a presença de Hg, pode ser advinda da sorção dos óxidos de manganês. Durante o ensaio agudo em solo, foi observada apenas uma morte na concentração de 25%, a qual foi atribuída ao acaso. Portanto, não foi observado efeito agudo de letalidade ao longo dos 14 dias de exposição, não sendo possível estimar a CL50 para a exposição ao rejeito. Em relação à variação na biomassa, não foram observadas diferenças estatisticamente significativas aos 7 e 14 dias de exposição em relação ao controle. No teste de fuga foi observado o efeito de perda de habitat dos organismos a partir da adição de 37,5% de rejeito. A partir deste ensaio foi estimada uma CE50 de 27,2 ± 2,83 %, valor este utilizada como critério de definição das concentrações do ensaio crônico em solo. No ensaio crônico não foram observadas variações estatisticamente significativas que indicassem efeitos negativos da exposição ao rejeito sobre a biomassa dos organismos. No que tange à reprodução, não foram observadas diferenças estatisticamente significativas entre os grupos de exposição e seus respectivos grupos controle. No entanto, os resultados indicaram uma tendência na redução do número de indivíduos juvenis em relação ao número de casulos. A baixa presença de indivíduos juvenis em relação à quantidade de casulos indica a possível produção de casulos inviáveis ou a ocorrência de condições ambientais inadequadas à eclosão e/ou sobrevivência dos indivíduos juvenis. Diante dos resultados expostos, o desastre em Brumadinho pode ter causado impactos irreversíveis aos ecossistemas da região atingida pelo rompimento da barragem. Por isso, a utilização dos ensaios ecotoxicológicos pode ser aplicada como ferramentas promissoras, diante do grande desafio na avaliação do nível de contaminação, e do impacto sobre a biota edáfica.
Palavras-chaves:SAÚDE PÚBLICASANEAMENTO AMBIENTALECOTOXICOLOGIABIOINDICADORESLIXIVIADO DE RESÍDUOS SÓLIDOSQUÍMICA AMBIENTALSAÚDE AMBIENTALTOXICOLOGIA AMBIENTALMANEJO DO SOLO Área de conhecimento (CNPq): Farmácia Linha de pesquisa na FIOCRUZ: 14.5. Saneamento e saúde ambiental, inclusive infantil