Mecanismos de ação de benznidazol em cardiopatia não infecciosa induzida por angiotensina II: efeitos biológicos e vias moleculares de sinalizaçãovoltar para a edição atual

Amanda de França Cordeiro

Sob orientação de JOSELI LANNES VIEIRA
As doenças crônicas estão entre as principais causas de morbidade e mortalidade no mundo, sendo as doenças cardiovasculares uma das principais causas de óbito entre os brasileiros. Dentre das principais patologias cardíacas, a cardiomiopatia inflamatória (CI) é caracterizada pela inflamação do músculo cardíaco composta por células T Th17 e CD8+, macrófagos, e enriquecida em citocinas, como fator de necrose tumoral (TNF), interleucina (IL)-1b, IL-4 e fator transformador de crescimento b. A CI pode estar relacionada a fatores neuro-hormonais como angiotensina II (Ang II), membro do sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA). Ang II atua por ação nos receptores do tipo 1 (AT1R) e do tipo 2 (AT2R). A interação Ang II-AT1R promove inflamação crônica, com ativação de vias de sinalização como fator nuclear kappa B (NF-kB) e proteína quinase ativada por um mitógeno (MAPK) envolvidas na regulação da produção de citocinas (IL-6 e TNF), liberação de quimiocinas (como proteína quimiotática de monócitos 1/MCP-1/CCL2), espécies reativas de oxigênio (ROS), e moléculas fibrogênicas, podendo levar a alterações elétricas. Ang II ao se ligar ao AT2R possui ações antagônicas ao AT1R. Benznidazol (Bz), droga nitroheterocíclica utilizada tanto nas fases aguda e crônica da doença de Chagas, quando usada em um modelo de cardiopatia chagásica crônica reduziu carga parasitária, melhorou a frequência cardíaca e a condutividade elétrica. Bz também possui ação imunomoduladora, reduzindo a expressão de TNF, cujos níveis estão diretamente relacionados ao aumento da dispersão do intervalo QT corrigido pela frequência cardíaca (QTc), condição associada a prognóstico ruim. Temos como hipóteses (i) a infusão com Ang II promove CI de baixa intensidade, com alterações na condução elétrica, com prolongamento da dispersão do QTc, e funcionais discretas, por meio da ativação de sinalização dependente de TNF e vias inflamatórias como NFkB e MAPK, e (ii) Bz atua no eixo Ang II/AT1R, modulando a sinalização celular, e contribuindo para reduzir sinais clínicos e perfil inflamatório. Na etapa anterior do projeto, estabelecemos modelo de cardiopatia por infusão de AngII (implante de minibomba osmótica), com aumento da pressão arterial e da dispersão do intervalo QTc. Mostramos que a terapia com Bz teve papel benéfico nas alterações clínicas induzidas por infusão de AngII (ver relatório). Nesta continuidade do projeto PIBIT, avançaremos na compreensão da influência de Bz na cascata de sinalização por Ang II, e as consequências biológicas (bioquímicas, celulares e moleculares). O objetivo geral é estudar em modelo de cardiomiopatia por infusão de Ang II o possível papel imunomodulador do tratamento com Bz no eixo Ang II/AT1R e as possíveis consequências biológicas no tecido cardíaco e pulmão. Em nosso desenho experimental animais foram submetidos à infusão de Ang II ou salina (controle) por implante subcutâneo de minibomba osmótica e submetidos ao tratamento por gavagem com água apirogênica (veículo, Veh) ou com Bz. Nesta fase do projeto, usaremos tecido cardíaco e pulmonar coletados em dois experimentos independentes e armazenados. Parte dos tecidos será usada em análise de histologia convencional e fibrose (hematoxilina-eosina, deposição de colágeno, imagens já adquiridas), outra parte no estudo da inflamação e expressão de fibronectina por imunoistoquímica. Parte do tecido cardíaco também foi congelada à seco para obter extratos (já preparados), que serão analisados por Western blotting (protocolo já padronizado) de proteínas de interesse e de cascatas de sinalização, como NF-kB e MAPK/p38/ERK/JNK e suas formas fosforiladas, além de outras vias que podem contribuir para a sobrecarga pressórica e alterações elétricas induzidas pela infusão de Ang II. Assim, neste projeto visamos estudar mecanismos celulares e moleculares de um processo biológico relevante em DCC, e trazer proposta de terapia, que tem potencial de geração de patente, visando à pesquisa translacional.
Área de conhecimento (CNPq): Imunologia Linha de pesquisa na FIOCRUZ: 5.4. Estudos celulares, bioquímicos e moleculares do processo inflamatório, mecanismos fisiopatológicos e perspectivas terapêuticas nas respostas inflamatórias local e sistêmica