Interação entre o sistema do complemento humano e o percevejo de cama Cimex lectularius (Linnaeus, 1758)voltar para a edição atual

BRENDA HEVILLIN ROCHA SIMTOB

Sob orientação de VLADIMIR FAZITO DO VALE
1. Justificativa e relevância Cimex lectularius (Heteroptera: Cimicidae) é um ectoparasito intimamente associado com os seres humanos que se alimenta de sangue em todos os estágios de seu desenvolvimento (Usinger, 1966). Durante a hematofagia esses percevejos podem gerar intensas reações alérgicas em seus hospedeiros (Doggett et al., 2012). A saliva de artrópodes hematófagos é composta por inúmeras moléculas biologicamente ativas que facilitam a alimentação no hospedeiro vertebrado e comumente modulam a resposta imunológica no local da picada (Andrade et al., 2005). Inibidores do sistema do complemento têm sido universalmente encontrados na saliva e intestino de artrópodes hematófagos e a presença dessa atividade em inúmeras espécies filogeneticamente distantes indica um papel fundamental dessas moléculas para a sobrevivência e desenvolvimento desses artrópodes (Schroeder et al., 2009). De fato, a proteção conferida por inibidores do sistema do complemento já foi mostrada em algumas espécies de insetos hematófagos (Barros et al., 2009). Como parte da imunidade inata, o sistema do complemento é composto por cerca de 30 proteínas plasmáticas que interagem entre si para formar uma cascata de reações bioquímicas. Três vias principais ativam o sistema do complemento: (1) a via clássica, normalmente dependente de anticorpos; (2) a via alternativa, ativada de forma espontânea e (3) a via das lectinas, que reconhece determinados açúcares encontrados na superfície de patógenos (Merle et al., 2015). A ativação do sistema do complemento é capaz de opsonizar patógenos (facilitando assim a fagocitose), produzir peptídeos pró-inflamatórios e até mesmo lisar células invasoras através da formação de poros na membrana celular (Merle et al., 2015). Apesar da crescente preocupação com os percevejos de cama, até o momento a interação entre C. lectularius e o complemento humano não foi descrita na literatura científica. Tendo em vista a importância de mecanismos inibidores do sistema do complemento para a sobrevivência e desenvolvimento de artrópodes hematófagos (Barros et al., 2009) e a possibilidade de se utilizar o conhecimento gerado como base para uma nova metodologia de controle, nos propusemos estudar essa interação. 2. Objetivos Específicos - Avaliar o status de ativação do sistema do complemento no sangue ingerido; - Testar a atividade inibidora do sistema do complemento humano pela saliva e conteúdo intestinal de C. lectularius; - Determinar o ponto de inibição da cascata do complemento pelo(s) inibidor(es) solúveis; - Verificar a capacidade do epitélio intestinal de C. lectularius em inibir o complemento através da ligação de moléculas reguladoras presentes no plasma sanguíneo. 3. Metodologia 3.1 Manutenção dos insetos e obtenção das amostras biológicas Serão utilizados machos de C. lectularius em jejum por 20 dias provenientes da colônia mantida no insetário do Grupo de Pesquisa em Triatomíneos do IRR/Fiocruz. Esses insetos são mantidos em potes de plásticos, sob temperatura e umidade controladas e alimentados semanalmente em camundongos. As amostras biológicas (glândula salivar e intestino) serão obtidas através de dissecação dos insetos em PBS utilizando-se um microscópio estereoscópico. 3.2 Ensaios do sistema do complemento humano Ensaios hemolíticos serão usados para avaliar o status de ativação do complemento humano ingerido e testar a capacidade das amostras biológicas de C. lectularius em inibir a via clássica e alternativa. Hemácias de carneiro opsonizadas com anticorpos (via clássica) e hemácias de coelhos (via alternativa) serão incubadas com soro humano normal, na presença e na ausência das amostras biológicas. A quantificação da lise mediada pelo complemento será feita através da dosagem da hemoglobina a 415 nm no sobrenadante do ensaio (Silva et al., 2016). A capacidade das amostras biológicas de C. lectularius em inibir a via das lectinas será testada de acordo com Mendes Sousa et al. (2016). Placas de ELISA serão cobertas com manana e incubadas com soro humano na presença e na ausência das amostras biológicas. A ativação da via das lectinas será mensurada através da detecção do componente C4 na superfície da placa. 3.3 Ensaios para determinar o ponto de inibição do complemento humano Com o objetivo de descobrir em qual ponto da cascata do complemento ocorre inibição, ensaios de ELISA serão realizados (Mendes Sousa et al., 2016). Os poços de placas de ELISA serão cobertos com IgG (via clássica), agarose (via alternativa) e manana (via das lectinas) e incubados com soro na presença ou ausência de amostras biológicas. A deposição de diversos componentes ao longo cascata do complemento (MBL, C1q, C4b, C3b, fator Bb, C5b e C9) será avaliada utilizando-se anticorpos específicos, de modo que será possível saber o ponto que a saliva ou conteúdo intestinal atua. 3.4 Ligação de moléculas reguladoras ao epitélio intestinal de C. lectularius Para avaliar a capacidade do epitélio intestinal de C. lectularius em captar moléculas reguladoras do complemento presentes no sangue humano, insetos serão dissecados e os intestinos serão abertos e incubados com soro humano normal. Após lavagem, esses intestinos serão sonicados e o material resultante será utilizado para cobrir uma placa de ELISA que será revelada utilizando-se anticorpos anti-fator H.
Palavras-chaves: Área de conhecimento (CNPq): Parasitologia Linha de pesquisa na FIOCRUZ: 1.1. Biologia de vetores ou hospedeiros de doenças humanas e animais