Intervenções nutricionais e dietéticas em crianças com paralisia cerebral: revisão sistemática de literatura voltar para a edição atual

ISABELA RODRIGUES MANSUR

Sob orientação de FERNANDA REBELO DOS SANTOS
Justificativa e relevância: A paralisia cerebral é uma lesão cerebral extremamente grave associada a múltiplos problemas nutricionais e clínicos, como baixo peso, refluxo gastresofágico, constipação e deficiência de nutrientes. Intervenções dietéticas e nutricionais baseadas em evidências podem melhorar a qualidade de vida de crianças com paralisia cerebral, visto que é reconhecida a influência da nutrição nas mudanças no funcionamento do corpo humano, tanto na cadeia causal das doenças quanto na modificação das respostas em doenças já estabelecidas. A identificação de intervenções dietéticas ou nutricionais com bons resultados no tratamento de transtornos comuns em crianças com paralisia cerebral, com evidências científicas de alto nível, é importante para a construção de protocolos e para o direcionamento da prática baseada em evidências, fornece subsídios para a gestão e organização da atenção nutricional em saúde pública, promovendo a redução da morbidade e dos custos hospitalares e a melhoria da qualidade de vida das crianças com paralisia cerebral. Objetivos: Revisar sistematicamente ensaios clínicos randomizados avaliando intervenções nutricionais e dietéticas nos aspectos clínico, nutricional e do neurodesenvolvimento de crianças com paralisia cerebral. Adicionalmente, avaliar a qualidade desses estudos e propor orientações para investigações futuras. Métodos: Foi realizada uma busca em bases de dados eletrônicas (LILACS, Medline, Web of Science, Embase, Scopus, Cochrane Library, ClinicalTrials.gov, Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações, ProQuest Dissertations and Theses Database, OpenGrey) utilizando-se palavras-chave como: ("paralisia cerebral" OR "encefalopatia crônica não progressiva") AND (criança OU crianças) AND (nutrientes OU nutrição OU dieta). Os estudos elegíveis foram ensaios clínicos randomizados, incluindo crianças entre 2 e 12 anos e avaliando o efeito de intervenções nutricionais ou dietéticas nos resultados clínicos, nutricionais ou de neurodesenvolvimento. A seleção dos estudos foi realizada por dois investigadores independentes utilizando-se o software Covidence. A extração de dados foi realizada por meio de um questionário estruturado por dois autores. Um terceiro autor revisou os dados e resolveu quaisquer divergências. O risco de viés foi investigado usando a ferramenta RoB-2 por dois avaliadores independentes. O estudo foi registrado no PROSPERO (CRD42020181284). Resultados: Um total de 508 referências foram obtidas em bases de dados eletrônicas. Após a exclusão de duplicatas, 399 referências foram selecionadas para leitura de títulos e resumos, dos quais 43 estudos foram selecionados para leitura do texto completo. Quinze estudos preencheram todos os critérios de elegibilidade e foram selecionados para a revisão sistemática. Os resultados positivos incluíram o uso de fórmulas enterais à base de soro de leite ou enriquecidas com pectina para refluxo gastroesofágico (n=6); suplementação de 25-hidroxivitamina D para hipovitaminose D (n=2); suplementação com mistura lipídica ou dieta com energia de alta densidade para melhora das medidas antropométricas (n=2); suplementação com probióticos, prebióticos, simbióticos ou magnésio para constipação (n=2); sistema de suporte nutricional para função motora grossa (n=1); lactoferrina e hidróxido de ferro polimaltose para anemia ferropriva (n=1); e intervenção educativa para melhorar as habilidades alimentares (n=1). O risco geral de viés foi alto para 60% dos estudos. Os demais estudos foram avaliados com alguma preocupação (30,0%), não havendo estudos com baixo risco de viés. Mais de 40% dos estudos apresentaram um alto risco de viés ou algumas preocupações para três dos cinco domínios avaliados: viés decorrente do processo de randomização (13,3% alto; 33,3% algumas preocupações), viés devido a desvios das intervenções pretendidas (6,7% alto; 53,3% algumas preocupações) e viés na seleção dos resultados relatados (100% algumas preocupações) Conclusão: Algumas intervenções dietéticas e nutricionais promissoras podem promover melhorias clínicas importantes para pacientes com paralisia cerebral. No entanto, as evidências são fracas, pois poucos ensaios clínicos foram publicados com muitos erros metodológicos, levando a um alto risco de viés. O pequeno número de ensaios clínicos randomizados sobre o uso de intervenções nutricionais em crianças com paralisia cerebral aliado aos resultados promissores encontrados revela uma área negligenciada com potencial para melhorar a qualidade de vida da saúde de famílias em todo o mundo.
Área de conhecimento (CNPq): Nutrição Linha de pesquisa na FIOCRUZ: 13.8. Estudos das condições de vida, inserção social, crescimento e desenvolvimento, nutrição e biomarcadores de prognostico em crianças e adolescentes com doenças crônicas, deficiências múltiplas, doenças infecciosas, doenças cirúrgicas e de crianças e adolescentes dependentes de tecnologias