Análise temporal e de fatores sociodemográficos da mortalidade por neoplasias da população idosa no Brasilvoltar para a edição atual

FELIPE CARNEIRO DE SOUZA

Sob orientação de CLEBER NASCIMENTO DO CARMO
O envelhecimento populacional tem ocorrido de maneira acelerada, sobretudo nos países em desenvolvimento. E com esse processo de mudança do perfil demográfico surge um grande desafio para esses países, pois precisam inserir o tema do envelhecimento populacional na formulação de políticas públicas e o planejamento de soluções de reorganização social e de saúde suficientes para atender as necessidades dessa nova realidade. Em paralelo ao processo de transição demográfica, o padrão de adoecimento e morte da população também vem sendo alterado. O perfil epidemiológico, resultado de uma série complexa de mudanças inter-relacionadas no comportamento de saúde e doença que ocorrem nas populações ao longo do tempo, são repercussões de um conjunto de transformações sociais, econômicas e principalmente demográficas Indivíduos e grupos sociais apresentam variabilidade quanto a muitas características entre si, o que não implica, necessariamente, em desigualdades nos processos de saúde e doença. As desigualdades referem-se às diferenças perceptíveis e mensuráveis nas condições de saúde ou no acesso aos cuidados em saúde. Quando consideradas injustas ou decorrentes de alguma forma de injustiça, são então denominadas iniquidades (Barata, 2012). As desigualdades são um fenômeno global e podem estar presentes entre os diversos países e mesmo dentro dos países, abrangendo dimensões culturais, sociais e econômicas, apresentando diferenciações nos acessos à informação, saúde e possibilidades de práticas preventivas de doenças e agravos (Barreto, 2017). O câncer é uma doença multicausal e sua relação com o envelhecimento populacional é conhecida (Pilleron et al., 2019). Globalmente, as transições demográfica e epidemiológica sinalizam para a importância crescente do câncer nas próximas décadas. Tendo em vista que o processo de adoecimento apresenta diferenciações, sejam individuais e contextuais, é relevante que as análises sejam baseadas no conhecimento teórico acerca das desigualdades em saúde. Analisar os determinantes sociais que perpassam os óbitos por neoplasias em idosos e fatores sociodemográficos associados possibilitaria analisar os contextos de vulnerabilidade aos quais estão expostos. O presente estudo irá caracterizar o perfil de mortalidade por neoplasias da população idosa do Brasil, seus fatores contextuais associados e acompanhar mudanças no padrão epidemiológico no período de 2011 a 2020 em indivíduos com idade de 60 anos ou mais. Trata-se de um estudo ecológico, de caráter descritivo e analítico, a partir de dados secundários de mortalidade da população idosa, no período de 2011 a 2020. A unidade de análise espacial será representada pelas Unidades da Federação e os anos do período do estudo, a unidade temporal considerada. São elegíveis para este estudo todos os indivíduos de 60 anos ou mais. A fonte de dados será o Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM/SUS), a partir das declarações de óbitos. Além disso, usaremos dados de população obtidos a partir de consulta às bases de dados do censo demográfico, projeções e estimativas demográficas do IBGE para o período de estudo. Variáveis contextuais serão obtidas a partir de dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e do Ministério da Saúde. Como variáveis de contexto, pretendemos considerar: Índice de Desenvolvimento Humano Municipal; Índice de Gini; Índice de Vulnerabilidade Social e Taxa de analfabetismo. Utilizaremos os valores mais recentes disponíveis, considerando os anos do período do estudo, sendo dados de 2017 referentes à Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) para o IDH-M, Índice de Gini e taxa de analfabetismo, e dados referentes a 2019 para o Índice de Vulnerabilidade Social. Para o cálculo das taxas de mortalidade, utilizaremos os números de óbitos disponíveis no SIM e os dados populacionais pelo censo demográfico de 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para análise dos dados, teremos como variáveis desfechos, as taxas de mortalidade pelas diferentes neoplasias da população idosa residente nas UF do Brasil. Inicialmente, faremos uma análise descritiva das variáveis do estudo, por meio da obtenção de medidas sumárias e visualizações gráficas, a fim de organizar e descrever características do conjunto de dados. Para as variáveis categóricas calcularemos as frequências absolutas e relativas; para os indicadores contextuais obteremos os valores mínimo, máximo, primeiro e terceiro quartis, mediana, média e desvio padrão. Para estimar a evolução da série temporal, utilizaremos modelos de regressão linear generalizada de Prais-Winsten, relacionando as taxas de mortalidade (Y) com o tempo em anos (X). Para essas análises, a variável tempo (em anos) será centralizada para evitar autocorrelação dos dados, por serem ordenados. Para cada modelo analisado o valor do coeficiente de determinação dado pela estatística R-square (R²) e o nível de significância estatística serão consultados (Antunes; Cardoso, 2015). Por fim, realizaremos uma análise de cluster dos dados estaduais de mortalidade. O objetivo é identificar padrões geográficos e demográficos dos dados de mortalidade em idosos e contribuir para a formulação de políticas públicas mais eficientes e direcionadas para essa população. Para as análises do estudo serão considerados: nível de significância estatística de 5% e utilizado apoio computacional do software Microsoft Excel para tabulações e cálculos; software R versão 4.2.3 para estimação dos modelos de regressão. Como se trata de dados secundários de domínio público, a análise e aprovação de comitê de ética são dispensadas.
Palavras-chaves:VULNERABILIDADEFRAGILIDADEVALIDADE PREDITIVAMONITORAMENTO DA SAÚDEIDOSO. Área de conhecimento (CNPq): Saúde Coletiva Linha de pesquisa na FIOCRUZ: 15.6. Epidemiologia de doenças crônicas, do envelhecimento, de doenças cardiovasculares, câncer e causas externas