Alterações hematopoéticas na obesidade: ênfase no período fetalvoltar para a edição atual

BIANCA SILVA PASSOS

Sob orientação de JACKLINE DE PAULA AYRES DA SILVA
Segundo a Organização Mundial de Saúde, quase 40% (1,9 bilhão) da população mundial está acima do peso, e cerca de 13% (650 milhões) são obesos. Dentre as crianças, 38,3 milhões de crianças abaixo dos cinco anos estão com sobrepeso ou obesidade, e dentre as crianças maiores de 5 anos e os adolescentes são 340 milhões nesta condição1. Um fato curioso é que o sobrepeso e a obesidade já matam mais do que a desnutrição. Diante destes números alarmantes e que vem crescendo a cada ano, muitas iniciativas estão sendo postas em prática com o objetivo de diminuir essa estatística que possui meios simples, baratos e eficazes de prevenção. Diversas complicações estão associadas à obesidade prolongada, tais como diabetes tipo 2, pressão alta, doenças cardíacas, esteatose hepática, dislipidemias, dentre outras, porém diante da recente pandemia de COVID-19, a obesidade foi observada como um dos fatores associados à um pior curso e desenvolvimento da doença, e diversos fatores associados aos mecanismos de inflamação decorrente da obesidade foram apontados como principais causas do pior prognóstico2. Células inflamatórias compõem o sistema de defesa ou imunológico e o desenvolvimento delas, bem como a correta ativação são importantes para a imunovigilância e combate às infecções. Entretanto, pouco é dito sobre o papel da obesidade e outros distúrbios metabólicos durante o processo de geração destas células de defesa, apesar de já existirem descrições que tanto condições de malnutrição3–5 quanto de sobrepeso6,7 podem gerar distúrbios no ambiente gerador destas células hematopoéticas, causando aumento de adipócitos na medula óssea6. Entretanto, pouco se sabe sobre as alterações decorrentes durante o processo de formação do sistema hematopoético da prole, bem como de seus efeitos a longo prazo8. Sabe-se que animais induzidos à obesidade durante a gestação apresentavam acúmulo de lipídeos nas placentas e que o fígado fetal exibiu aumento do número de macrófagos circulantes, células tronco hematopoéticas e de células ovais8. Assim, o objetivo deste trabalho é estudar as alterações na medula óssea e na hematopoese decorrentes de dietas hipercalóricas e modelos de mutação espontânea que estimulem o acúmulo de lipídeos corporais e explorar os mecanismos associados, principalmente àqueles relacionados a geração de células tronco hematopoéticas no feto em desenvolvimento. Para tal, utilizaremos modelos de camundongos com mutação espontânea que induzam obesidade e também alimentaremos camundongos Swiss Webster (machos e fêmeas) com dieta hipercalórica e trabalharemos com 4 grupos de acasalamento: 1) fêmeas obesas com machos normais, 2) machos obesos com fêmeas normais, 3) machos e fêmeas obesas e 4) machos e fêmeas normais, de forma que possamos avaliar a influência do sobrepeso e obesidade no processo de formação das células hematopoéticas da prole. Tantos os geradores (M/F) quanto a prole (F1) (E14-18 e 2 meses) terão os seus ossos e órgãos analisados histologicamente (coloração e imunomarcação), bem como serão avaliados os parâmetros hematológicos e bioquímicos no sangue periférico dos adultos. Ao final do estudo esperamos descrever as alterações observadas na medula óssea dos adultos, bem como as alterações encontradas nos órgãos hematopoéticos fetais (fígado e medula óssea) decorrentes do distúrbio metabólico, e nos aprofundarmos na descrição de alguns dos mecanismos associados.
Área de conhecimento (CNPq): Morfologia Linha de pesquisa na FIOCRUZ: 7.3. Doenças metabólicas