Estudo da interação do protozoário Trypanosoma cruzi com o retículo endoplasmático de cardiobioblastos: uma abordagem farmacológica e ultraestrutural voltar para a edição atual

GLEICYANE SILVA GOMES

Sob orientação de REGINA CELIA BRESSAN QUEIROZ DE FIGUEIREDO e LUCAS EDUARDO BEZERRA DE LIMA
JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA: A doença de Chagas (DC), causada pelo protozoário Trypanossoma cruzi, é uma doença que causa distúrbios cardíacos e digestivos severos em humanos, os quais muitas vezes levam ao óbito. A cardiomiopatia chagásica crônica (CCC), é a mais frequente e severa das formas da DC, e uma das principais causas de morbidade e mortalidade devido a complicações cardiovasculares e falência do órgão. A CCC é resultado de uma baixa, mas persistente miocardite focal associada a um processo inflamatório crônico e um desequilíbrio na relação T. cruzi-célula hospedeira. O sucesso da infecção dos cardiomiócitos pelo T. cruzi depende, entre outros fatores, da forma como o parasita reconhece e explora organelas e vias metabólicas dos hospedeiros para estabelecer um ambiente favorável à sua sobrevivência e disseminação no organismo. Dentre as organelas mais exploradas por patógenos, o Retículo endoplasmático (RE) assume um papel de destaque pelo seu papel na síntese, dobramento, modificação e transporte de proteínas. Um desequilíbrio na sua fisiologia pode levar ao acúmulo de proteínas mal dobradas referido com estresse do RE (ERE). Na tentativa de restabelecer a sua função e diminuir o estresse, o RE lança mão da UPR (unfolded protein response), uma resposta adaptativa essencial para restabelecer a funcionalidade da organela. No entanto, o ERE persistente pode ativar processos inflamatórios e a morte da célula hospedeira. Dentro da premissa que a associação de T. cruzi com organelas intracelulares pode determinar o sucesso ou não da infecção, bem como o destino das células hospedeira, estratégias que inibam estas interações, podem ser um caminho terapêutico para tratamento da CCC. Sabe-se que cardiomioblastos infectados por T. cruzi, sofrem ERE e ativam a UPR nestas células. No entanto, as consequências destas interações ainda não foram totalmente elucidadas. O ácido tauroursodesoxicólico (TUDCA) é um potente inibidor do ERE, prevenindo as consequências prejudiciais da UPR quando este se torna persistente. Apesar do seu potencial citoprotetor em vários modelos, nos quais o dano e morte celular resulta de um ERE persistente, o efeito deste inibidor sobre a infecção de células cardíacas por T. cruzi ainda não foi investigado. OBJETIVOS: No presente trabalho, visamos identificar moléculas que possam inibir vias ou organelas que favorecem a sobrevivência de T. cruzi em cardiomioblastos, bem como investigar a interação deste parasito com o RE, durante o curso da infecção. METODOLOGIA: Para avaliar o efeito do inibidor de estresse do RE sobre as células infectadas com T. cruzi, cardiomioblastos serão infectadas com formas tripomastigotas e incubadas na presença ou ausência de diferentes concentrações do TUDCA. As células serão então fixadas e coradas com Giemsa, para determinação da porcentagem de células infectadas e a intensidade de infecção, através da microscopia óptica. Cardiomioblastos infectados e não tratados serão usados como controle. O tratamento prévio com TUDCA será feito para avaliar o seu efeito citoprotetor sobre os cardiomioblastos. Usaremos sondas fluorescentes específicas para RE, mitocôndria e gotas lipídicas para visualizarmos a interação de T. cruzi com estas organelas durante o tratamento com o TUDCA. Para identificação efeitos dos diferentes tratamentos sobre a ultraestrutura das células as amostras serão processadas para microscopia eletrônica de transmissão e varredura. PERSPECTIVAS: Tendo em vista os danos causados pela infecção do T. cruzi, esperamos aumentar nossos conhecimentos sobre a interação parasito-célula hospedeira, com ênfase no RE. Os resultados deste estudo poderão dar suporte científico para o desenvolvimento de novas drogas que inibam o ERE persistente induzido pelo T. cruzi contribuindo para uma maior sobrevida dos cardiomioblastos, e favorecendo uma resposta efetiva contra o T. cruzi.
Área de conhecimento (CNPq): Parasitologia Linha de pesquisa na FIOCRUZ: 4.3. Biologia, bioquímica e biologia molecular de parasitos e a sua interação com células e hospedeiros