Estudo dos mecanismos envolvendo as alterações microvasculares em modelo experimental de doença de Chagas aguda.voltar para a edição atual

KEYLA RODRIGUES NOVAES

Sob orientação de Luciana Lopes de Almeida Ribeiro e BEATRIZ MATHEUS DE SOUZA GONZAGA
A doença de Chagas (DC) é uma doença negligenciada causada pelo protozoário flagelado Trypanosoma cruzi (Chagas, 1909). Afeta cerca de 7 milhões de pessoas no mundo, sendo endêmica na América Latina. No Brasil, cerca de 2 a 3 milhões de pessoas estão infectadas (WHO, 2017). A doença é dividida em duas fases. A fase aguda é caracterizada por parasitemia patente com intensa resposta inflamatória e a fase crônica por parasitemia muito baixa acompanhada da presença de parasitas nos tecidos (Rassi et al, 2011). A cardiomiopatia é a principal manifestação clínica da DC. Porém alterações neurológicas também observadas, como meningoencefalite, principalmente em crianças e pacientes imunossuprimidos na fase aguda e o acidente vascular cerebral isquêmico na fase crônica, que pode ser associado com alterações da microcirculação cerebral (MCC) (Pittella, 1993; Carod-Artal et al., 2007; Py, 2011). Ainda, 38,4% de indivíduos assintomáticos desenvolvem o AVC (Carod-Artal et al., 2010). Estudos em humanos demonstram que a DC altera a microcirculação cerebral (Carod-Artal et al., 2010). Nosso grupo reportou pela primeira vez que a infecção aguda pelo T. cruzi causa alterações funcionais na microcirculação cerebral em camundongos, como a redução no número de capilares espontaneamente perfundidos, intensa inflamação microvascular, e disfunção endotelial (Nisimura et al., 2014). O estresse oxidativo ocorre quando há um desequilíbrio entre compostos oxidantes e antioxidantes, que tem por consequência a produção excessiva de radicais livres, como as espécies reativas de oxigênio (EROs). Esse desequilibrio pode estar relacionado a diversas patologias, assim como a DC, e já foi observado no cérebro de animais infectados pelo T. cruzi (Sadek et al. 2002; Nisimura et al., 2014; Vilar-Pereira et al., 2021). Além disso, a isquemia tecidual gera hipóxia e leva a redução dos complexos respiratórios e comprometimento da síntese de ATP, além de comprometer a função mitocondrial (Ramos & Rossi, 1999; Borutaite et al., 2003). Junto da reperfusão tecidual, que segue a isquemia, esses fatores atuam aumentando a produção de EROS (Gupta et al., 2009). Nesse contexto de isquemia cerebral, a angiogênese foi apontada como um dos mecanismos de defesa do organismo para ajudar a restaurar o suprimento de oxigênio e nutrientes para o tecido após AVC (Beck & Plate, 2009). Sendo assim, o objetivo do presente estudo é avaliar o efeito do tratamento com benznidazol combinado ou não com o composto antioxidante selênio, sobre hipóxia e o estresse oxidativo no tecido cardíaco e cerebral dos animais durante infecção aguda experimental por T.cruzi.
Área de conhecimento (CNPq): Parasitologia Linha de pesquisa na FIOCRUZ: