Desenvolvimento de estratégias de Vigilância Popular e Cuidado em Saúde junto à um grupo de mulheres em situação de vulnerabilidadevoltar para a edição atual

TAINA MARIA LIMA FREIRE

Sob orientação de Fernando Ferreira Carneiro
Diversos saberes e práticas são desconsiderados pelas concepções e ações de vigilância do campo sanitário hegemônicas do Estado, a exemplo do que está ocorrendo frente a pandemia pela COVID 19. Todavia, existem movimentos e iniciativas nascidos nos territórios e da organização popular na defesa do direito à vida. Ainda é incipiente na saúde coletiva o processo de reflexão teórica mais abrangente e consolidado dessas experiências, que estancaram na proposta seminal da vigilância da saúde desenvolvida nos anos 1990. Essas experiências contribuem para uma vigilância popular da saúde e ambiente? Avançar na compreensão dos conceitos e métodos que fortaleçam o ‘pensar e fazer com’ é uma possibilidade criativa, de inovação em pesquisa em serviço para uma vigilância que contribua na defesa da vida, compreendida numa dimensão ampla, em que as populações do campo, da floresta, das águas e das cidades não estão apartadas do ambiente. Nesta cenário apontamos a ecologia de saberes como uma das possíveis inspirações teóricas e metodológicas para essa proposta. Na América Latina e no Brasil vêm sendo formuladas diversas propostas nos últimos 20 anos que buscam sistematizar conceitos, métodos e ações em torno da VPS. Dentre elas destacamos a vigilância popular, a vigilância civil, o monitoramento participativo, a vigilância articulada à concepção de uma promoção emancipatória da saúde, e mais recentemente a proposição de Vigilância Popular da Saúde e do Ambiente no contexto da Covid-19. Todos esses esforços visam a incorporação de diversos referenciais, atores, movimentos sociais e minorias, para permitir uma Vigilância baseada no diálogo e articulação de saberes, e que permeiem uma prática com valores democráticos rumo à sustentabilidade e à justiça social, sanitária, ambiental e cognitiva. As Epistemologias do Sul podem contribuir para inspirar processos de pesquisa em termos teóricos e metodológicos para dar visibilidade aos modos de vida e de trabalho, bem como aos impactos socioambientais, riscos e danos à saúde humana das comunidades guardiões de nossa biodiversidade atingidas pelos processos de desenvolvimento em curso no mundo globalizado. Esse projeto de pesquisa visa a elaboração de uma poposta teórico-metodológica de Vigilância Popular da Saúde no contexto da pandemia da COVID 19 ancorada nas Epistemologias do Sul em territórios atingidos pela pandemia no Ceará. O componente empírico do Brasil estará baseado no "Estudo da pandemia da COVID-19 em uma coorte de mulheres de uma comunidade de alta vulnerabilidade em Fortaleza" aprovado em Edital INOVA da Fiocruz Ceará, Fundação de Apoio a Pesquisa do Ceará e pelo Comitê de Ética em Pesquisa. A pesquisa se caracteriza como um estudo misto, envolvendo uma coorte observacional, um estudo de rede e um estudo qualitativo a ser realizado durante o período de outubro de 2020 a setembro de 2023 (36 meses). Essa proposta de projeto de pesquisa busca dialogar com a abordagem qualitativa presente nesse estudo misto por meio do mapeamento de organizações comunitárias no bairro que permitam o desenvolvimento da Vigilância Popular da Saúde. Será desenvolvida uma pesquisa-ação e utilizada a técnica da cartografia social para construir um mapa participativo. O ponto central desta tarefa será mapear o conhecimento da comunidade sobre as causas, sintomas e mortes do COVID-19, mas também mapear os pontos críticos, soluções e respostas gerando o mapa da comunidade da epidemia desde o primeiro caso identificado até o momento bem como um plano de ação participativo para enfrentar os problemas levantados. O estudo final será amplamente compartilhado como "devolutiva de pesquisa", na perspectiva da Ecologia de Saberes e da Tradução Intercultural como estratégia metodológicas de compartilhamento e tradução intercultural do conhecimento.
Palavras-chaves:VIGILÂNCIA POPULAR DA SAÚDE; ECOLOGIA DE SABERES Área de conhecimento (CNPq): Saúde Coletiva Linha de pesquisa na FIOCRUZ: 19.3. Construção de metodologias de intervenção sobre situações de saúde