Validação de testes rápidos de antígenos para diagnóstico por RT-PCR e vigilância genômica voltar para a edição atual

JOYCE DA SILVA CARVALHO

Sob orientação de FABIO MIYAJIMA e TICIANE CAVALCANTE DE SOUZA
A emergência do novo coronavírus (SARS-CoV-2) e o consequente surgimento e propagação de novas linhagens filogenéticas (ditas variantes de preocupação, ou VOCs), em função do processo evolutivo estão associados com a sustentabilidade da pandemia da COVID-19, impactando diretamente no seu controle epidemiológico e no manejo de pacientes. Múltiplos eventos têm sido relatados, como a diminuição da efetividade vacinal, maior taxa de reinfecção, menor sensibilidade diagnóstica, além de variações na manifestação clínica e revisões nos protocolos terapêuticos e nas medidas de saúde pública. O rastreio e o monitoramento da evolução viral pela caracterização molecular de SARS-CoV-2 advém de iniciativas mundiais e de esforços colaborativos visando a geração de conhecimentos aplicáveis à contenção e combate à pandemia através de estratégias de vigilância genômica, como a análise filogenética e monitoramento de assinaturas do genoma viral por meio de técnicas de sequenciamento de nova geração (NGS). Inúmeros eventos de recrudescimento epidemiológico da COVID-19 têm sido registrados desde 2020. Essas chamadas “ondas pandêmicas” têm sido caracterizadas pelo surgimento de novas variantes e substituição das existentes, indicando claramente a existência de significantes processos evolutivos. Atualmente, subvariantes descendentes da BA.5 da VOC Ômicron (BA.5-like) constituem a linhagem predominante no Brasil e no mundo, de acordo com sequenciamentos depositados no GISAID, um repositório internacional para compartilhamento de sequências de vírus Influenza e SARS-CoV-2. O monitoramento genômico de SARS-CoV-2 se faz ainda mais necessário pela recente introdução de terapias antivirais específicas, e potencial advento de mecanismos de resistência, e da nova campanha promovida pelo programa nacional de imunização com as vacinas bivalentes. A diminuição significativa da captação e encaminhamento de amostras clínicas para vigilância laboratorial, muito em função da diminuição da adesão populacional por testagem da COVID-19 e à baixa demanda por exames moleculares de rt-PCR, evidenciam a necessidade do desenvolvimento de novas estratégias e implementação de fluxos alternativos, analíticos e pré-analíticos, para o encaminhamento de amostras, visando o fortalecimento da vigilância epidemiológica. Embora a técnica de rt-PCR seja considerada padrão-ouro para o diagnóstico do SARS-CoV-2, o elevado número de indivíduos infectados e a necessidade de testagem rápida e descentralizada, impulsionou o desenvolvimento de tecnologias de testes rápidos de antígenos para suprir a demanda global por diagnósticos e diminuir a sobrecarga nos centros de testagem molecular. Com a emergência e expansão de variantes de preocupação de SARS-CoV-2 (VOCs) em 2021, os TRs foram utilizados como algoritmos de testagem em massa em eventos e no monitoramento de viajantes, objetivando o rastreio ativo de indivíduos infectados, o isolamento de casos e a testagem de contactantes. A popularização do método, em função da praticidade de sua execução e maior celeridade na obtenção de resultados, combinados com o seu baixo custo e abundância de oferta, resultaram em uma grande expansão das testagens de TRs e consequentemente a uma drástica diminuição da procura pelos métodos tradicionais de rt-PCR de tempo real para o exame diagnóstico da COVID-19, a partir de meados de 2022. Desta forma, o uso de TRs rapidamente suplantou o número de exames realizados por rt-PCR de tempo real, constituindo a grande maioria dos testes diagnósticos realizados atualmente. As vantagens da ampla utilização dos TRs no diagnóstico da COVID-19 impactaram em um declínio significativo no número de amostras clínicas coletadas para exames diagnósticos de rt-PCR de tempo real, utilizados para triagem amostral, resultando em uma diminuição expressiva no número de amostras encaminhadas para os centros de vigilância genômica do país. Conclui-se que a avaliação e o monitoramento evolutivo da população viral circulante, bem como o rastreio de importação de novas linhagens do SARS-CoV-2 no Brasil têm sido significativamente prejudicados, e os dados atualmente reportados de limitada representatividade, aquém dos níveis de monitoramento requeridos.
Palavras-chaves:DIAGNÓSTICOCOVID-19SALIVAAUTOCOLETAAVALIAÇÃO COMPARATIVAVIGILÂNCIA LABORATORIAL Área de conhecimento (CNPq): Saúde Coletiva Linha de pesquisa na FIOCRUZ: 16.1. Vigilância epidemiológica