Perfil da população humana que sofre espoliação por morcego hematófagovoltar para a edição atual

Clicia Rodrigues Machado

Sob orientação de ALESSANDRA FERREIRA DALES NAVA e Sergio Luiz Bessa Luz
As mordeduras por morcegos hematófagos em população humana podem ocasionar infecções pelo vírus rábico como também outras infecções de importância em saúde pública. A mordedura em humanos por morcegos hematófagos é ocorrência de notificação compulsória de acordo com o Ministério da Saúde do Brasil. O Brasil é o segundo maior país do mundo em diversidade de morcegos, e dentre os morcegos hematófagos três espécies são presentes no país: Desmodus rotundus, Diphylla ecaudata e Diaemus youngi. A espécie implicada na espoliação em humanos é o D. rotundus, sendo o D. ecaudata mais associado a espoliações em animais silvestres e a espécie D. youngi possui predileção por aves domésticas e silvestres. A espoliação pelo morcego hematófago Desmodus rotundus geralmente ocorre em populações em situação de vulnerabilidade e distante dos centros urbanos, onde o acesso à serviços de saúde é facilitado. A implicação dessa dinâmica reflete em uma fragilidade quanto á prevenção a infecção pelo vírus rábico que é a procura do sistema de saúde para a pós exposição ao vírus rábico, medida importante e significativa para debelar a infecção pelo vírus rábico, caso o morcego envolvido no ataque estivesse infectado. A frequência das ocorrências de raiva humana em populações do norte do país pela mordedura do morcego hematófago tem chamado atenção, como em Melgaço no Pará onde 12 pessoas morreram sendo 11 crianças e um adulto. Em novembro de 2017 três crianças de uma mesma família adquiriram a infecção rábica na reserva extrativista Resex Unini em Barcelos no estado do Amazonas. Destas três crianças, duas foram a óbito e o adolescente que sobreviveu a infecção rábica possui sequelas gravíssimas. Enquanto ainda na década de 80 ainda havia diversos casos de transmissão do vírus rábico pela mordedura de animais de companhia, com destaque para os cães, em meados dos anos 2000, o perfil mudou, sendo a maioria das ocorrências relacionada a transmissão do vírus da raiva por morcegos hematófagos. A situação epidemiológica da raiva humana teve uma grande modificação no Brasil, e esta mudança no perfil epidemiológico foi decorrente dos sucessivos programas de controle e profilaxia da raiva aonde a prioridade se destacou na vacinação anual de cães e gatos pelas prefeituras e realizada pelo Centro de controle de zoonoses de cada municipalidade. O perfil da epidemiologia atual da raiva humana no Brasil com os últimos casos fatais ocorrendo na região norte do Brasil, leva a uma preocupação quanto as variáveis que possam estar envolvidas nessa transmissão. Em ocorrências de casos de mordedura e ocorrência da raiva em humanos na Amazônia, mudanças ambientais são variáveis que estão sendo estudadas. Dentre essas variáveis, o desmatamento florestal para a pecuária de corte tem sido destaque principalmente pela relação da migração de morcegos hematófagos para se alimentarem de herbívoros, aumentando sua proximidade com populações humanas. Durante as migrações dos morcegos hematófagos, estes podem carrear o vírus da raiva para regiões onde não havia ocorrência previa da doença em humanos. Alguns estudos conduzidos na Amazônia peruana e no estado do Pará elencam variáveis ambientais e variáveis envolvendo ações antrópicas que possam estar implicadas nas ocorrências de raiva na população humana. Porém, pouco se sabe sobre o perfil sócio demográfico e espacial das comunidades que sofrem as espoliações por morcegos hematófagos e se características individuais possam estar implicadas na ocorrência e ausência das mordeduras nas populações atingidas. Este estudo objetiva a compreensão do perfil sócio demográfico e espacial das comunidades que sofrem espoliação pelo morcego hematófago através do acesso a dados secundários disponíveis no Sistema Nacional de Notificação de Agravos (SINAN) do Ministério da Saúde.
Área de conhecimento (CNPq): Medicina Veterinária Linha de pesquisa na FIOCRUZ: 16.1. Vigilância epidemiológica