Perfil clínico-epidemiológico da Tuberculose Drogarresistente na infância e adolescência no Brasilvoltar para a edição atual

Tássia Cordeiro Brum Machado

Sob orientação de PAULO VICTOR DE SOUSA VIANA e NATALIA SANTANA PAIVA
Introdução: As crianças com tuberculose (TB) têm sido historicamente uma população negligenciada, estima-se que cerca de 1 milhão de crianças desenvolvam TB a cada ano (WHO, 2021). No entanto, a maioria dessas crianças nunca é diagnosticada ou tratada para sua doença, e segundo estimativas recentes da Organização Mundial de Saúde (OMS) ocorreram 208.000 mortes de crianças devido à TB em todo o mundo em 2019 (WHO, 2021). A Tuberculose Drogarresistente a medicamentos (TBDR, referindo-se a qualquer resistência aos medicamentos para TB), especialmente TB multirresistente (TBMR, definida como Mycobacterium tuberculosis com resistência a pelo menos isoniazida e rifampicina), é uma ameaça contínua em crianças e adultos e mais de 30.000 crianças tinham TBMR no mundo em 2019. Até onde sabemos, ainda são escassos estudos que se concentraram em padrões de resistência a medicamentos, incluindo tuberculose monorresistente, TBMR, tuberculose polirresistente e tuberculose extensivamente resistente a medicamentos (TB-XDR) em crianças em todo o mundo, e muito pouco se sabe sobre a magnitude desta doença e sua resistência aos medicamentos em crianças (Jenkins et al., 2014; Ködmön et al., 2017). As principais razões, segundo alguns autores, são as dificuldades para um correto diagnóstico, uma vez que as crianças geralmente apresentam sintomas inespecíficos e a confirmação bacteriológica é difícil. A coleta de escarro é particularmente complexa em crianças menores de dez anos. Mesmo que amostras biológicas sejam obtidas, o resultado pode ser falso-negativo. Portanto, o diagnóstico de TB em crianças é um desafio, apesar da disponibilidade de tecnologias modernas, como os testes de amplificação de ácido nucleico (NAAT) (Marais et al., 2020). Objetivos: Descrever características clínicas e sociodemográficas, estimar a carga de adoecimento entre os casos de TBDR notificados nas crianças e adolescentes no Brasil. Metodologia: Estudo de coorte retrospectiva de casos de TBDR notificados no Sistema de Informação de Tratamentos Especiais de Tuberculose (SITETB), no período de 1º de janeiro de 2012 a 31 de dezembro de 2019. Serão excluídos os registros duplicados ou aqueles em que a situação de encerramento foi "mudança de diagnóstico". Este estudo explorará as seguintes covariáveis: sexo (masculino ou feminino); faixa etária (0-4 anos, 5-9 anos, 10-14 anos e 15-19 anos); raça/cor (branca, preta, parda, amarela e ignorada); forma clínica (pulmonar, extrapulmonar e mista); ano; padrão de resistência (monorresistência, multirresistência, polirresistência e resistência extensiva); tipo de resistência (primária ou adquirida) e tipo de entrada (caso novo, reingresso após abandono, falência, recidiva, mudança de resistência e outros). Serão realizadas análises das características clínicas e epidemiológicas dos casos TBDR notificados, a fim de caracterizar a população do estudo por meio de distribuições de frequências, medianas e intervalo interquartílico para as variáveis quantitativas serão calculadas. As diferenças entre as proporções entre os grupos serão comparadas utilizando-se o teste do qui-quadrado (?2) ou, quando a frequência esperada das tabelas de contingência for menor ou igual a 5, utilizará o teste exato de Fisher. Para as variáveis contínuas, foi utilizado o teste não paramétrico de Wilcoxon-Mann-Whitney. Um valor de p < 0,05 será considerado estatisticamente significativo. As análises deste trabalho serão implementadas no ambiente livre R 4.1.1. Por fim, o principal ensejo deste estudo é contribuir com a pesquisa científica e a formação de jovens pesquisadores no campo da saúde da pública, com vistas a ampliar o conhecimento sobre o controle e o acompanhamento dos casos de TBDR entre crianças e adolescentes do Brasil. Referências Bibliográficas Jenkins HE, Tolman AW, Yuen CM, Parr JB, Keshavjee S, Pérez-Vélez CM, et al. Incidence of multidrug-resistant tuberculosis disease in children: systematic review and global estimates. Lancet (London, England). (2014) 383:1572–9. doi: 10.1016/S0140-6736(14)60195-1 Ködmön C, van den BoomM, Zucs P, van derWerfMJ. Childhood multidrug- resistant tuberculosis in the European Union and European Economic Area: an analysis of tuberculosis surveillance data from 2007 to 2015. Euro Surv Bull Eur sur les Maladies Trans Eur Commun Dis Bull. (2017) 22:17- 00103. doi: 10.2807/1560-7917.ES.2017.22.47.17-00103 Marais BJ, Amanullah F, Gupta A, Becerra MC, Snow K, Ngadaya E, et al. Tuberculosis in children, adolescents, and women. Lancet Respir Med. (2020) 8:335–7. doi: 10.1016/S2213-2600(20)30077-1 WHO. Global Tuberculosis Report. (2021). Disponível em: https://www.who.int/publications/i/item/9789240037021
Área de conhecimento (CNPq): Saúde Coletiva Linha de pesquisa na FIOCRUZ: 15.5. Epidemiologia de doenças transmissíveis